sexta-feira, 19 de março de 2010

Eros e Psique (Fernando Pessoa)

Querida Pat,
Antigamente, as princesinhas costumavam perder sapatinhos no baile.
Hoje, perdem Blackberries em baladas.
Não retenha a brisa, minha amiga, talvez ela esteja transportando seu imantado talismã, num tapete encantado, até um lindo príncipe – poeta também ele, é claro – que, encantado com seu sonhário, empreenda a busca da valorosa dama que o imaginou e desejou em cartas de amor que não são ridículas, embora assim se considerem.
Um príncipe que, na procura, encontre – não apenas a você – mas também a si, como nos versos divinos de Pessoa.
Você os conhece?
Aí vão, extraídos diretamente da worldwideweb, para todos os Proudbooknerds com eles se deliciarem neste fim de semana.
Beijos a todos,
Eliane





..E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
 
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa  

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